domingo, 1 de agosto de 2010

O PUM (O PEIDO)


Ponto de partida: Estação Brigadeiro 
Destino: Estação Carrão 

Esta história não é muito adequada para crianças, ou melhor, acho que não é adequada para ninguém, pois irei falar de uma coisa podre, fedida, porém natural: o “pum”. 

Pum é um nome carinhoso que inventaram para o peido, bufa, ou outra definição que considere melhor. Para que o texto não fique muito pesado (ou fedido), vou procurar manter o respeito para o leitor não se sinta ofendido e usarei o “pum” como forma de mascarar a evasão de gases de nosso organismo. Entendido as interpretações, vamos ao texto. 


Esta história aconteceu durante o ano de 1999, quando eu ainda trabalhava no Banco América do Sul na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio e voltava para casa após um cansativo dia de trabalho. 

Todos os dias eu andava um pouquinho para chegar até a estação Brigadeiro na Avenida Paulista. Eu sempre estava ouvindo um walk-man para distrair, assim como muitos outros usuários do Metrô, pois a música ajudava a esquecer a cansativa viagem da estação Brigadeiro até a estação Carrão.
 
Depois de já ter feito duas baldeações, uma na estação Paraíso e outra na estação Sé, consegui um lugar para sentar e vinha tranqüilo ouvindo alguns sambas no último volume, até a hora que surgiu uma imensa vontade se soltar um “pum”. Confesso que eu já havia soltado alguns “puns” pelos vagões do Metrô, mas nunca havia sentido tanta vontade como este que acabara de bater na portinha de saída. 

Eu estava com medo de soltá-lo, pois devido a pressão que fazia, seria um daqueles explosivos, barulhentos. Ele tentava fugir pela esquerda e eu o pegava. Ele tentava fugir pela direita e eu o pegava novamente. Eu não o deixava sair, até um momento que não resisti mais e tive que deixá-lo evasar. Para não fazer barulho, soltei o mais devagar que pude e quando terminei, tive a sensação de que a missão estava cumprida, afinal ele havia saído totalmente e eu nem sequer ouvira um barulhinho. 


Olhei para o alto com uma expressão aliviada e do meu lado esquerdo havia um homem que ria e olhava para mim. Achei estranho, mas não dei a menor importância. Na minha frente, havia duas mulheres que cochichavam e riam olhando para mim, enquanto do meu lado direito, um senhor de terno e gravata estava tentando conter os risos. Eu, inocente, não estava entendendo mais nada, quando veio um estalo na minha cabeça. O “pum” havia feito barulho e eu não ouvi porque estava com os fones do walk-man no último volume. 


Que vergonha! 


Fiquei imaginando o que aqueles seres, que estavam em minha volta pensavam vendo um japonês, ouvindo samba no último volume, soltando um peido, me desculpe, soltando um “pum” na maior cara-de-pau. Só poderia ser motivo de risadas – e muito fedor – mesmo. 

Pior foi a minha atitude. Disfarcei e fingi que aquelas risadas não eram comigo e continuei ouvindo o meu walk-man numa boa, até a estação Carrão. 

Depois do acontecimento, durante algum tempo procurei variar um pouco os vagões com vergonha de encontrar com aquelas pessoas que estavam em minha volta na hora do cerimonial “pum”. Já pensou eles falando para o amigo do lado: 

- Tá vendo aquele japonês. Outro dia ele soltou um “pum” aqui no Metrô na maior tranqüilidade e nem ligou...blá,blá... 

Que vergonha seria. 

Depois do trauma passado, ainda soltei alguns “puns” pelos vagões do Metrô, mas todos tiveram sucesso e não fizeram nenhum barulho para me acusarem. Diferente do “pum” da história, que não obteve o mesmo sucesso. 


Com o acontecimento aprendi novas táticas e hoje eu abaixo o volume do walk-man para melhor controlar a saída do “pum”. Quando percebo que não tem jeito mesmo e vai ser um daqueles – barulhentos, eu seguro até a próxima estação, desço na plataforma, procuro um local deserto e o solto sem dó nem piedade. Ahhh, depois de tudo que passei, nem ligo mais para o barulho. 

(Este texto faria parte do livro que nunca escrevi "NAS LINHAS DO METRÔ)

terça-feira, 30 de março de 2010

DE QUEM É A CULPA?



Temos o costume de xingarmos os meninos fazendo malabarismos nos faróis da cidade. O quê?!! Isso não te incomoda? Então vou mais a fundo. Com certeza te revolta os assaltos nos faróis, sequestros relâmpagos e tantos outros crimes ocorridos na cidade. Então comece a pensar:

Quem são os culpados? Os assaltantes, os vagabundos, o menino malabarista? Quem? 

Estou tentando descobrir.

Por trás destes personagens "vagabundos", encontro muitos outros culpados. Mas nem sempre os encontramos por ai.
Ao contrário do menino sujo e seus malabares, o mendingo e o batedor de carteira, eles estão bem vestidos. Usam terno, gravata, falam bem e andam no carro do ano. E quem é que paga? Oras! Eles possuem estes benefícios: vale terno, vale gasolina, etc, etc, etc. Outra coisa, não ganham menos de 10 mil reais (torno de 34 salários mínimos).

Estes "bem vestidos" são os responsáveis pela educação e saúde do menino de malabares, do mendigo e de outros personagens "vagabundos".

Com a educação oferecida pelos "bem vestidos", o menino de malabares e outros personagens "vagabundos" concluem o ensino fundamental e médio. Com o que aprenderam, seguem em busca de novos horizontes: o ensino superior.

Mas algo de errado acontece. O menino de malabares e outros personagens "vagabundos" não conseguem ingressar nas melhores faculdades, principalmente nas públicas, ADMINISTRADAS pelos "bem vestidos". No entanto, se preparar nas escolas ADMINISTRADAS pelos "bem vestidos" o fará buscar opções em uma faculdade paga, com mensalidades de 700 reais.

E quem vai para as faculdades públicas?
Ahhhh!!! Os filhos dos "bem vestidos". Muito provalmente eles estudaram em escolas que os DONOS também eram "bem vestidos". Nestas escolas as pessoas "bem vestidas" não aceitam o menino do malabares e muitos menos os "vagabundos". Eles não possuem $$$ para pagar por esta educação.

E o que acontece com os filhos dos "bem vestidos"?
Os filhos dos "bem vestidos" se tornarão grandes médicos, advogados e engenheiros. Trabalharão bem vestidos atendendo outras pessoas "bem vestidas". Ganharão salários de até 23 salários mínimos.

E com os "vagabundos"? 
Não conseguirão concluir o ensino superior por falta de dinheiro. Entrarão no mercado de trabalho sem se especializar e ficarão desempregados. Quem puder dar um emprego a um "vagabundo", pagará no máximo 2 salários mínimos. Com os 2 salários mínimos ele pagará as contas, aluguel e a comida da família. Seus filhos estudarão em uma escola ADMINISTRADA por pessoas "bem vestidas" e fatalmente terão o mesmo destino.

Porém, o "vagabundo" por falta de especialização perderá o emprego para o filho de um "bem vestido" que acabou de se formar.
O "vagabundo" continuará procurando emprego, mas não terá muito sucesso dentro do concorrido mercado. Com uma família para sustentar, talvez pense até em roubar. Seus filhos, para cobrir as despesas, ajudarão pedindo dinheiro, fazendo acrobacias com malabares nos faróis da cidade.

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NOTA: Não quero defender o menino que rouba, nem o rapaz que sequestra alguém. Só quero abrir os olhos das pessoas para os problemas sociais existentes em nosso país.

Pior que o menino que bate carteira no centro é o político, o juíz, o delegado, o desembargador e outros profissionais de currículos invejáveis, que roubam na "cara" de todo nós. Isso é inadimissível, mas também é culpa nossa. Nós os colocamos no poder e aceitamos tudo que é imposto, sem reclamar. Problemas de um povo passivo.

Voltando ao assunto:
Pra você, quem é o culpado?





Este texto escrevi em 2005 e cinco anos depois vejo que ainda é bastante atual, por isto resolvi publicá-lo novamente. Será que daqui 5 anos, ele ainda será atual?

O dia do apito final...

Conheci as palavras de Armando Nogueira por meio do jornal O Estado de São Paulo. Como toda maioria dos adolescentes, entre meus 13 e 14 anos de idade, o único caderno que interessava ler era o de esportes.

Nunca tinha ouvido falar deste tal de Armando Nogueira, muito menos sabia da sua importância no jornalismo nacional, mas como costumava ler todas as notícias de esportes, do futebol ao hipismo, acabava sempre passando por sua coluna.

Foi por meio dela que começou aflorar meu sentimento de um dia ser um jornalista. Não qualquer um, queria ser como Armando Nogueira.

Passei a escrever crônicas sobre os mais diversos assuntos, principalmente sobre futebol. Surgiu a internet e os contatos com as pessoas foi facilitado.

A partir dai, consegui o contato do Armando. Passei a enviar meus textos para ele ler e comentar. E acredite ou não, mesmo sendo uma pessoa extremamente ocupada, ele sempre me respondeu.

Meus textos eram baseados no futebol e também sobre minha paixão pelo meu time do coração, o Corinthians. Eu costumava escrever sempre em momentos de tristeza e angústia. As palavras vinham, na maioria das vezes, em tom de desabafo.

Armando, no alto da sua experiência como ser humano e jornalista, consolava-me com histórias que presenciou ao lado de Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Didi e tantas outras feras perdidas na linha do tempo do nosso futebol. A cada resposta, uma emoção diferente. Mesmo para uma resposta curta, de um leitor seu qualquer, era visível o cuidado que ele tinha com cada palavra.

Eu me orgulhava disto! De poder trocar palavras com mestre Armando Nogueira. A cada resposta eu contava para meus amigos mais próximos. Adolescentes, enxergava em seus rostos um ar de interrogação. Quem é este Armando Nogueira?

Enfim. Hoje, 16 anos depois, após toda repercussão da sua morte, acredito que todos meus amigos já podem dizer: "agora eu sei quem era aquele cara que o Marcel vivia falando".

Não tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Infelizmente, o tempo não permitiu que isto acontecesse. Mas sua obra e lições são imortais. E pra quem sabe do meu sonho de ser jornalista, desde pequenininho, sabe que boa parte da culpa é deste cara ai, Mestre Armando Nogueira.

Muito obrigado!